O Evangelho de Marcos foi escrito na segunda metade do primeiro século, por volta do ano 64, durante a dura perseguição do imperador romano, Nero. Marcos quer dar alento aos cristãos perseguidos: Jesus é o Filho de Deus, mas ao mesmo tempo, profundamente humano, um Jesus sofredor, que se deixa crucificar, mas que sai vitorioso e ressuscitado. Os discípulos, imitando o exemplo do Mestre, conseguem dar-Lhe o supremo testemunho do martírio.
O Evangelho de Marcos, Jesus é o Filho de Deus e Filho do Homem. Como
homem assume todo o sofrimento humano, até a paixão e a morte na cruz: é o
Messias sofredor do profeta Isaías. Os cristãos perseguidos sabiam que era
necessário passar pela cruz para alcançarem a glória da ressurreição. Assim, como
Jesus manifestou a Sua identidade divina, diante de Pilatos, assim os
discípulos revelam Jesus diante das autoridades, tendo a feliz esperança da
ressurreição, passando pela experiência da cruz, até ao martírio.
Jesus é o Filho de Deus e, ao mesmo tempo Filho do Homem: é nesta
dupla perspectiva que conseguimos compreender o “segredo messiânico”. De facto,
Jesus pede insistente e até energicamente que não seja revelada a Sua
identidade de Messias e Filhos de Deus. Os demónios sabiam que Jesus era o
Filho de Deus (Mc 1,34), mas Jesus não lhe permitia que falassem (Mc 3,11). Aos
doentes que curava, Jesus ordenava severamente que não dissessem nada a ninguém
(Mc 1,44; 5,43; 7,36; 8,26).
Quando Jesus perguntou aos discípulos: «Mas vós, quem dizeis que
eu sou?» Pedro respondeu, reconhecendo a identidade divina de Jesus, mas logo
recebeu a ordem que «não o dissessem a ninguém» (Mc 8, 29-30). A incompreensão
de Pedro, leva-nos a compreender que a divindade de Jesus, não pode ser
separada da sua humanidade. Um Messias humano e sofredor será sempre um
escândalo aos olhos humanos. A mesma coisa aconteceu com a Transfiguração. Só
depois da Ressurreição é que o podiam revelar (Mc 9,9), porque só então
resultava clara a Sua verdadeira humanidade, a humanidade do Filho de Deus, que
incluía o sofrimento e a morte na Cruz.
Sabemos também, pelos relatos de Marcos, que as pessoas (discípulos,
doentes, espíritos) não conseguiam silenciar. Era uma ordem que era sempre impossível
cumprir. Era um segredo tão “surpreendente” que não podia ficar “segredo”. A verdade,
por quanto se queira, nunca poderá ficar presa. Jesus é a Verdade, ninguém Lhe
resiste. Jesus é um homem livre, diz a verdade, não se apega aos resultados
imediatos, é livre da tentação de popularidade e de poder. Uma liberdade interior
que brota da intimidade pessoal com o Pai.
Como explicar
o “Segredo Messiânico”.
Há quem diga que se trata de uma sistematização literária, isto é uma
forma de apresentar Jesus, mas que não corresponde à realidade. O Evangelista
Marcos, serviu-se disso para dizer que Jesus é o Filho de Deus (Mc 1,1) – este
é o seu objetivo – mas também que Ele se revelou progressivamente e, pública e
definitivamente durante o processo e no alto da cruz (cf. Mc 9,9).
Uma outra explicação seria a seguinte: Jesus exigiu o «silêncio»
para não se confundir com o messianismo judaico, que esperava um Messias de
ordem política. Jesus preferiu o silêncio, para não ser mal-entendido. Outra
explicação, seria para explicar o porquê os judeus não reconheceram em Jesus o
Messias e o Filho de Deus. Neste sentido, a verdadeira identidade de Jesus, só pode
ser conhecida por aqueles que o seguem; só na intimidade pessoal com Ele é
possível vislumbrar o Seu mistério.
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