O Diabo não caiu por inveja do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, mas por soberba. A soberba é o amor desordenado à sua própria excelência, enquanto a inveja é o ódio à excelência e a felicidade dos outros. Por isso, a inveja não pode atuar antes da soberba, mas somente depois dela, porque é a sua consequência. (...)
A queda dos anjos
aconteceu antes da criação do homem e não foi por causa da inveja que o diabo
se tornou soberbo, mas por causa da soberba que se se tornou invejoso.
As Sagradas
Escrituras e a tradição da Igreja apontam realmente o pecado de dos anjos foi um
pecado de soberba, que decorreu em outros pecados como o orgulho, a inveja, a
mentira etc. Lúcifer, apesar de ser “o Anjo mais elevado, mais belo e mais
perfeito” - como diz Orígenes - foi capaz de se transformar em diabo - num ser
terrível e maligno - tal como é conhecido.
Muitos
Exorcistas, pela experiência nos Exorcismos, afirmam que Satanás e o Diabo são
o mesmo ser, como a Bíblia o dá a entender nalgumas passagens.
A palavra
Satanás significa adversário, inimigo, opositor. A palavra Diabo deriva de um verbo
grego e significa «Acusador». Era um anjo bom, mas, com a queda, deformou-se e
tornou-se «demónio». Desde que consentiu ao pecado de soberba, Satanás, foi
expulso do Céu. Mas não se corrompeu e não se deformou sozinho. Era o Anjo mais
belo e grandioso no Céu, tanto que os outros Anjos o admiravam pela sua tamanha
beleza e a sua grande inteligência que lhe permitia dominar os outros Anjos. Por
isso, com a sua própria corrupção, conseguiu arrastar uma multidão de Anjos. Como
é que aconteceu? Satanás autoconvenceu-se de que, pelo seu poder e
inteligência, podia ser igual a Deus, o como tal ser reverenciado pelos outros
anjos. Estes, também dotados de inteligência, de livre arbítrio e de um certo
grau de conhecimento de Deus, deixaram-se convencer por ele, e acreditaram que
ele era maior do que o próprio Deus, e que não poderiam, de maneira alguma,
estar a serviço da criatura humana.
São Boa
Ventura levanta esta possibilidade muito concreta quando, comentando a queda
dos Anjos, afirma que os Anjos que seguiram Lúcifer, não somente pecaram em acreditaram
nas suas mentiras, mas também eles, de alguma forma, caíram no pecado de
soberba que surgiu em Lúcifer e começava a se refletir neles. Desse modo, os
outros anjos começaram a desejar a mesma excelência de Lúcifer, deixaram-se corromper
progressivamente pelo pecado da soberba e decidiram seguir a Lúcifer – pois,
para eles, somente por meio da exaltação de Lúcifer é que poderiam também eles obter
tamanha glória.
Imaginemos a
força da inteligência e dos argumentos de Lúcifer que consegui convencer “um
terço” dos anjos (Cf. Gn 12,4). Todos os
Anjos passaram pela mesma prova! A prova da liberdade, da escolha, da
inteligência e da razão! Todos poderiam ter escolhido a Deus! Nenhum deles estava
obrigado a seguir a rebeldia de Lúcifer! Contudo, por livre escolha, se
corromperam, se rebelaram e se transformaram em demônios!
Na ocasião
da queda do Anjos, Lúcifer revelou-se tal como ele é: o “pai da mentira” e
“assassino por excelência” (Cf. Jo 8,44) e, com a sua habilidade, conseguiu enganar
muitos Anjos que o seguiram. De certa forma, pecou por ter “assassinado” a
possibilidade que os anjos tinham de continuarem uma vida em Deus. Ele foi assassino
e mentiroso desde o princípio: não se manteve na verdade, porque nele não há
verdade. Quando ele fala diz mentiras, fala do que é próprio dele, pois ele é
mentiroso e pai da mentira (Jo 8,44).
Também
Satanás é chamado “pai da mentira” e “assassino”, porque foi exatamente com uma
mentira que induziu a pecar a Adão e Eva, convencendo-os a comer o fruto da
árvore do conhecimento, porque se tornariam com como Deus (Cf. Gn 3,4),
trazendo, assim, a morte espiritual e física não somente para Adão e Eva, mas
para toda a humanidade!
Ele se
mostrou assassino e mentiroso! Mentiu para os seus Anjos, mentiu para os nossos
primeiros pais, trouxe a morte para o mundo e a sua própria ruptura definitiva
para com Deus. A palavra de Deus atesta esta verdade quando nos diz: «pois
Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos» (Sb 1,13); «ora,
Deus criou o ser humano incorruptível, à imagem da Sua própria natureza: foi
por inveja do Diabo que a morte entrou no mundo...» (Sb 2,23-24) Portanto,
ele é mentiroso e assassino desde o princípio.
São Jerônimo
diz: «Com Lúcifer, um dos seus príncipes, caíram muitos outros; (...) Lúcifer
pecou por orgulho e consigo arrastou um terço das estrelas, isto é, dos Anjos».
O Exorcista, o Padre Francesco Bamonte, exorcista e presidente da Associação Internacional dos Exorcistas,
relata que durante um exorcismo o demônio exprimiu sua revolta contra Deus desta
forma:
«Rebelei-me porque eu não era Ele.
Queria ser como Ele. Eu tinha muitos poderes e, por isso, acreditava que podia
ser igual a Ele. Eu queria ser Ele. Muitos seguiram-me, porque eu tinha-lhes
prometido tudo, tudo, tudo... Tinha prometido que eu seria como Deus. Eu tinha muitos
poderes, tantos que até eles [os outros Anjos] acreditaram que eu podia ser
como Deus. Eu era o maior e o mais belo; eu era ainda mais belo que Miguel».
Neste relato
acima, vemos realmente a verdadeira imagem que Lúcifer tinha de si mesmo, sua
intenção de ser como Deus, e como ele enganou os outros anjos por tamanha
excelência que havia nele. Vemos também como ele mentiu para estes anjos, prometendo-lhes
realidades que não poderia alcançar.
Ainda neste
mesmo Exorcismo, o Exorcista ordenou-lhe:
– Em nome de
Jesus: Como te chamavas antes da Rebelião? A resposta foi: Lúcifer...
O Exorcista
perguntou, ainda, o que realmente significava aquele nome, e ficou surpreso com
a resposta, quando o mesmo disse:
– Anjo. Anjo acima dos Anjos... Anjo por excelência.
Não devemos
sempre acreditar em tudo o que o Demônio diz, sendo ele mentiroso e Pai da
mentira, mas algumas vezes, ele é obrigado, por uma intervenção divina, a se
revelar ou obedecer ao Exorcista.
Quanto ao entendimento
da queda de Lúcifer, temos algumas afirmações importantes para fecharmos este
assunto.
No Concilio
de Latrão IV, há um decreto que afirma: «O Diabo, porém, e os outros
espíritos maus, foram criados bons por sua natureza, mas tornaram-se maus por
obra de si mesmos» (CIC 404.)
Nesse texto não
é colocada a questão do tipo de pecado que causou a queda, mas se afirma que
foi um ato de liberdade dos mesmos. O Catecismo de São Pio X, que é um resumo da
doutrina católica em forma de perguntas e respostas, na questão 39 afirma:
Foram os Anjos todos fiéis a Deus? «Os Anjos não foram todos fiéis
a Deus, mas muitos deles, por soberba, pretenderam ser iguais a Ele e
independentes; por causa deste pecado, foram excluídos do Paraíso para sempre e
condenados ao Inferno». O mesmo Catecismo diz que o nome dos Anjos
condenados ao Inferno são Demônios, que têm por seu chefe Lúcifer ou Satanás
(Cf. Questão 40).
O Papa Paulo
VI, na sua famosa audiência de 15 de novembro de 1972, afirma: «Os Demônios
são criaturas de Deus, mas decaídas, porque rebeldes e condenadas; constituem
um mundo misterioso transformado por um drama muito infeliz, do qual conhecemos
pouco».
O Compêndio
do Catecismo da Igreja Católica resume a queda dos Anjos desta forma: «O que
é a queda dos Anjos? Com esta expressão, indica-se que Satanás e os outros
Demônios de que falam as Sagradas Escrituras e a Tradição da Igreja, de Anjos criados
bons por Deus, se transformaram em maus, porque, mediante uma opção livre e
irrevogável, recusaram Deus e o Seu Reino, dando assim origem ao Inferno».
Deus não poderia ter perdoado os Anjos?
Após vermos
como se deu a queda dos Anjos e sua transformação em Demônios, certamente
passou pela nossa cabeça que, uma vez que Satanás viu o seu erro, viu sua
derrota frente a Deus e aos Anjos de Deus, viu que se deformou em trevas; não poderia,
então, ter-se ele arrependido e voltado atrás de sua decisão? E se o Demônio se
arrependeu, poderia Deus tê-lo perdoado e restabelecido o seu posto como um
Anjo de Luz novamente?
O que nos
ensina a Igreja neste sentido é que, caso o Demônio houvesse se arrependido,
certamente Deus lhe teria perdoado, pois Deus é amor, e é amor sempre! Mas a
realidade é que o Demônio não se arrependeu e nem mesmo se arrependerá dos seus
erros e de sua rebelião; e continua até os dias de hoje, ininterruptamente, com
o seu pecado de soberba e mentira, atacando os filhos de Deus para os fazer
cair.
Duas
realidades os fazem não se arrependerem e voltar atrás dos seus erros:
- A primeira é a realidade de que os
Anjos, por serem criaturas espirituais, são dotados de uma lucidez e de uma
inteligência desproporcional e superior aos homens. Isso significa que, quando
fazem uma escolha, o fazem com tamanha força interior, liberdade e clareza, que
é impossível voltarem atrás dessa opção.
- A segunda razão é que, uma vez que
o Demônio, em sua vontade e liberdade, não quer aceitar a Deus, e na verdade O
rejeita e O despreza, não poderá haver sobre tal ser a graça de Deus que conduz
ao arrependimento.
Sendo assim,
será impossível que ele se arrependa, uma vez que a contrição de coração e o
arrependimento são uma ação da graça de Deus sobre a criatura. Portanto,
podemos dizer que Deus é capaz de perdoar qualquer pecado, mas não pode perdoar
a um Demônio, pois a lei que o próprio Deus estabeleceu foi que o perdão é dado
àquele cujo coração se arrependeu; logo, uma vez que um Demônio jamais se
arrependerá, jamais haverá perdão para ele. Portanto, não é Deus incapaz de
perdoar, mas é o Demônio que não quer arrepender-se e voltar.
São João
Paulo II, em um discurso dado em 23 de julho de 1986, fez esta afirmação sobre
a queda dos Anjos:
«Com base em sua liberdade criada,
fizeram uma opção radical e irreversível, igualmente como os Anjos bons
fizeram, mas diametralmente oposta: em vez de uma aceitação de Deus plena de amor,
lhe opuseram uma rejeição inspirada num falso sentido de autossuficiência, de
aversão e até de ódio que se converteu em rebelião». São João Paulo II afirma que foi uma
opção radical e irreversível!
O Catecismo da Igreja Católica (n.
393) é muito claro a esse respeito: «É o caráter irrevogável de sua opção, e
não uma deficiência da infinita misericórdia divina, que faz com que o pecado
dos Anjos não possa ser perdoado». E cita uma afirmação de São João Damasceno:
«Não existe arrependimento para eles [Demônios] depois da queda, como não
existe para os homens após a morte». O Catecismo continua: «Esta “queda”
consiste na opção livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e
irrevogavelmente a Deus e seu Reino» (CIC 392)
Podemos
afirmar que os Demônios escolheram para sempre o que conheciam convictamente. Os
homens, por causa da sua natureza já manchada pelo pecado original, podem se
arrepender e voltar atrás de suas decisões; pois não há nos homens tamanha
clareza e lucidez sobre as realidades de Deus e do mundo espiritual que os cerca.
Uma vez enraizadas no homem as consequências do pecado original, ele acaba
sendo condicionado e influenciado pelas suas próprias paixões e limitações,
posição esta que o limita em suas decisões e percepções.
São Tomás de
Aquino ensina que, a diferença dos Anjos, os homens não podem tornar-se bons ou
maus num único e preciso momento, mas este caminho é feito lentamente, de escolhas
em escolhas, diante dos atos que se faz, das diversas possibilidades que se
apresentam.
É exatamente por isso que, apesar da gravidade do pecado de Adão e Eva, seu erro não manteve os homens num estado decaído de eternidade, mas abriu-se aos mesmos – e a toda a humanidade – a possibilidade de um caminho de arrependimento e perdão.